terça-feira, 26 de janeiro de 2010

PNDH 3 e Haiti

A tragédia no Haiti e a absurda composição de forças reacionárias para brecar o Plano Nacional de Direitos Humanos tem muita coisa em comum, por incrível que pareça. O terremoto que atingiu o Haiti e matou aproximadente 150 mil pessoas mostrou ao mundo um país destruído e miserável. O enfoque dado pela mídia nos primeiros dias da tragédia foi aos "saques" e à violência desenfreada, pois presos tinham escapado, não havia policiamento, etc... No âmbito dos direitos humanos, a mídia em geral, unida aos partidos da oposição e à "nata" do poder judiciário, bateu pesado no plano cuja autoria atribuem ao Paulo Vanucchi. Atribuem, pois o plano é fruto de intensa discussão da sociedade civil, e não de autoria de uma única pessoa.

O que une os dois acontecimentos é a defesa escancarada de valores burgueses em geral e do capitalismo em particular. Dar importância aos saques que estão acontecendo em um país que perdeu 150 mil habitantes em algumas horas e no qual não se consegue enterrar os cadáveres é dose pra elefante. Em situação análoga, 99% das pessoas saqueariam para saciar a sede e a fome. Outro aspecto importante do país é que no bairro rico da cidade os imóveis, pertencentes a haitianos ricos que moram nos EUA, não foram praticamente afetados. A desgraça foi maior para os pobres, como é recorrente na história mundial.

Para quem vive no Brasil e acompanha minimamente a vida política do país, nem seria necessário dizer que um movimento que conta com a "adesão" de Boris Casoy, Gilmar Mendes, Kátia Abreu, Sérgio Guerra, as Forças Armadas, Reinaldo Azevedo, toda a grande imprensa, a CNBB, o DEM e o PSDB não é flor que se cheire. Pois todos esses movimentos - por diferentes razões, mas com o claro propósito de frear qualquer tentativa de progresso da cidadania e da própria democracia - bateram, com força, no PNDH 3. Teve de tudo. A CNBB divulgou nota contra o aborto e contra o casamento gay, a senadora Kátia Abreu, musa dos pecuaristas, bateu sem dó no MST e na proposta de mediação de conflitos no campo contida no plano, além de defender o "os direitos humanos consagrados, como a propriedade e a liberdade de imprensa", seja lá de onde ela tirou isso. Os chefes das forças armadas ameaçaram se demitir, assim como o ministro da defesa, Nelson Jobim. Foi uma choradeira só. Nosso "ilustríssimo" presidente do STF, Gilmar Mendes, foi além. Bateu no MST e ainda afirmou que a Lei da Anistia foi ampla, geral e irrestrita. Teve muito mais, mas acho que os exemplos já dão uma bela ideia do que se passou por essas bandas. Os jornalões tb se posicionaram, de maneiras peculiares: Estadão e Folha.

Qual a conclusão disso tudo? Oras, é evidente! Se no Haiti, país destroçado por sucessivos golpes militares, com o 130º PIB mundial vitimado recentemente por um terremoto que matou centenas de milhares de pessoas, quando há saques, a imprensa brasileira acha errado e noticia, imagine "acabar" (porra, nem é isso, é muito menos do que isso o que pretende o PNDH 3!!!) com a propriedade privada aqui no Brasil, país que está entre as dez maiores economias do mundo, vai sediar uma Copa e uma Olimpíada e, afinal de contas, é um lugar abençoado por Deus??! O Haiti mostra, através da sua tragédia, que o capitalismo não conseguirá salvá-lo. Somente será possível reconstruir o país com AJUDA HUMANITÁRIA, muitas DOAÇÕES e SOLIDARIEDADE. Até a dívida externa foi perdoada...

Em outras palavras, se no Haiti - símbolo global de miséria após um terremoto - um saque vira notícia, não é de se estranhar que o PNDH 3 tenha gerado essa onda de protestos e acusações estapafúrdias por parte dos detentores do poder, receosos que estão de perdê-lo.

Trocando em miúdos, mais uma vez: nem que o Brasil afundasse em tragédia semelhante a do país caribenho o tema da propriedade privada seria seriamente debatido por essas bandas. Como muitos dos temas do PNHD também não o seriam. Pior do que isso: no Brasil, sequer a questão do latifúndio é discutida com seriedade!

Onde não há discussão e enfrentamento das desigualdades e discordâncias, impera a violência.

Para uma bela análise do PNDH 3 e da grita promovida pelos de sempre, clique aqui

Abraços!

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